Livre Arbítrio ou Ilusões?


Livre-Arbítrio e os Arquétipos da Influência

O livre-arbítrio tem sido frequentemente entendido como o poder de escolha, uma capacidade inalienável do ser humano de decidir entre caminhos opostos, representados, simbolicamente, por forças do bem e do mal. 

No que entendemos sobre espiritualidade, a liberdade de escolha é muitas vezes desafiada por influências espirituais externas, especialmente pelos chamados obsessores. Entre os arquétipos descritos, destaca-se o obsessor da fascinação, que atua manipulando a percepção da realidade e comprometendo o discernimento crítico do indivíduo.

A Fascinação atua como um Processo de Controle Perceptivo

A obsessão da fascinação não se manifesta pela imposição de força, mas pela sutileza da ilusão. Esse obsessor constrói cenários mentais e emocionais nos quais a vítima é envolvida, criando uma "realidade alternativa" que dificulta o exercício pleno do raciocínio lógico e da abertura ao contraditório. 

Nesse estado, a mente da pessoa permanece funcional e racional em aparência, mas o campo das ideias está fechado para novos horizontes. A fascinação é, assim, um aprisionamento sofisticado da consciência dentro de padrões pré-estabelecidos como verdades construídas ao longo da trajetória sócio-cultural.

No que entendemos sobre espiritualidade, observa-se que, diferentemente de outras formas de obsessão, como a subjugação, que afeta diretamente o corpo físico, a fascinação atinge a alma e o intelecto, tornando suas vítimas propensas a decisões e interpretações que não condizem com a realidade objetiva e sim distorções da objetividade. Essa forma de obsessão,  uma metáfora poderosa para questões contemporâneas como o fanatismo, intolerância e a disseminação de verdades cheias de ilusões. Esses fenômenos não apenas comprometem o discernimento, mas também geram polarizações sociais e impedem o diálogo construtivo entre diferentes perspectivas causando discórdias e lutas ideológicas.

Discernimento: A Ferramenta para a Libertação

No contexto espiritual e místico, o discernimento é o atributo essencial para superar a influência de obsessores e retomar o controle do livre-arbítrio.

 Mas, como discernir se estamos cheios de razões que justificam nossas atitudes?

O discernimento dentro de uma ilusão são as vendas dos olhos e ouvidos, não podendo ser descrito como a capacidade de enxergar além das ilusões, e, reconhecer a natureza dual das forças que atuam sobre a alma humana. 

Cultivar o discernimento requer autoconhecimento, prática espiritual e a busca por fontes confiáveis de orientação, sejam elas doutrinas religiosas, estudos filosóficos ou conexões intuitivas com a espiritualidade. Ao buscar a Sabedoria pelo conhecimento e dentro da Ética para construir a moralidade singular de qual caminho poderá levar a uma Verdade.

A falta de discernimento pode levar ao fanatismo, no qual o indivíduo se apega cegamente a uma ideia, crença ou grupo de semelhantes, rejeitando qualquer possibilidade de erro ou revisão. Esse estado favorece a intolerância, que permeia a incapacidade de aceitar ou respeitar opiniões diferentes, e perpetua a circulação de verdades ilusórias que alimentam conflitos pessoais e coletivos como forma de expressão de sua verdade sobre os demais considerados como inferiores ao seu modo de pensar e agir na sociedade.

Na psicologia arquetípica de Jung, forças como o obsessor da fascinação poderiam ser interpretadas como a manifestações do "sombra" ou de conteúdos inconscientes reprimidos que buscam expressão no consciente. Assim, ao invés de um inimigo externo, o obsessor poderia ser visto como um reflexo interno que exige a integração e aceitação.

O Papel da Meditação e do Auto-Estudo

Práticas como meditação, oração e análise crítica são sugeridas como métodos eficazes para fortalecer o discernimento. Na visão espiritualista, a elevação do pensamento em direção ao divino, combinada com o estudo das doutrinas, é um antídoto contra as influências obsessivas. A meditação, por sua vez, permite que o indivíduo se reconecte com sua essência, desvelando as camadas de ilusões criadas pela fascinação.

Além disso, o auto-estudo e o diálogo inter-religioso podem ser ferramentas importantes para combater o fanatismo e a intolerância. Ao abrir espaço para o confronto saudável de ideias, o indivíduo amplia sua visão de mundo e fortalece sua capacidade de discernir entre verdades e ilusões.

Portanto

O livre-arbítrio permanece como a pedra angular do progresso espiritual e humano, mas sua eficácia está diretamente ligada à capacidade de discernir entre o real e o ilusório. Seja no campo da espiritualidade, da psicologia ou do misticismo, a superação das influências externas e internas exige um esforço consciente e contínuo na busca da Verdade. Nesse sentido, o combate ao fanatismo, à intolerância e às verdades ilusórias torna-se um caminho essencial para a libertação da mente e do espírito

A clássica imagem de um anjo e um demônio ao lado de um indivíduo simboliza a luta constante entre forças que influenciam nosso destino, reforçando que, em última instância, a escolha sempre recai sobre cada um de nós. Nossas decisões determinam o rumo de nossa existência: escolhas pautadas na virtude e na sabedoria nos conduzem a estados elevados de consciência e harmonia, enquanto decisões baseadas no egoísmo e na ilusão nos afastam da verdadeira plenitude.

A reflexão sobre as próprias ações e intenções molda o despertar espiritual, e é no pós-vida que se desvelam, de forma mais clara, as consequências desse percurso.



Postagens mais visitadas

A Fidelidade

Significado de Umbanda

Por quê sofremos???